terça-feira, 4 de maio de 2010

FIGURA MUSICAL!




Ademilde Fonseca Delfim
Cantora

Nasceu em 4 de março de 1921, Pirituba, São Gonçalo do Amarante / RN.


Em 1924 a sua família mudou-se para Natal, devido a grande cheia do rio Potengi, que praticamente destruiu o povoado de Pirituba - na época, com a idade de 3 anos, ela já mostrava inclinação para a música.

O choro, no entanto, gênero que projetou sua carreira de maneira bastante peculiar, entrou antes em sua vida: aos sete anos de idade, quando aprendeu, para se exibir numa festa da escola, a quase desconhecida letra de Tico-tico no fubá - choro composto em 1917 por Zequinha de Abreu e letra escrita por Eurico Barreiros, após a morte do compositor.

De família humilde, nove irmãos, ela foi a única que se dedicou de corpo e alma à música, particularmente ao chorinho.

Aos 19 anos, casou-se em Natal com o violonista Naldimar Gedeão Delfim, com quem viria a formar um grupo mambembe de teatro e música. “Não sei se me apaixonei por ele ou pelo violão. Acho que foi pelos dois”, confessa Ademilde, que a partir daí assumiu em definitivo sua adoração pela música e, em especial, pelo chorinho.

A fim de fugir das escassas possibilidades de trabalho existentes na região, a família aportou na capital em 1940.
Mesmo após o nascimento de sua filha Eimar, Ademilde sabia que, se recebesse o devido apoio familiar, poderia conciliar as responsabilidades maternas com os interesses artísticos. Assim, não perdeu tempo e tratou de fazer uma visita à Rádio Clube do Brasil, na qual foi apresentada a Gastão do Rêgo Monteiro, locutor-chefe da emissora. Este, por sua vez, promoveu um encontro entre ela e o instrumentista Benedito Lacerda, encontro do qual nasceu uma grande afinidade. “Sabendo que eu conhecia a letra de Tico-tico no Fubá, ele ficou muito entusiasmado e me apresentou ao Braguinha”, conta Ademilde, que já estava trabalhando na Rádio Clube e, muito embora não fosse contratada, cantava acompanhada pelo regional do flautista.

Mas foi o ano de 1942 que realmente proporcionou à Rainha do Chorinho o ingresso na vida artística profissional, quando numa festa, acompanhada de Benedito Lacerda “ousou” cantar o chorinho para o público, ritmo até então conhecido só como instrumental. Ademilde foi em frente e deu seu recado cantando inteirinho o “Tico-Tico no Fubá”, para supresa de todos os presentes.

Incentivada por esses mestres, a cantora foi aos estúdios da gravadora Columbia, na época dirigida por João de Barro (o Braguinha), em agosto de 1942 e fez a sua primeira gravação: Tico-tico no Fubá. O 78 rotações que marcaria sua estréia tinha no outro lado o samba Voltei pro Morro, de Benedito Lacerda e Darci de Oliveira. O sucesso da gravação fez com que Ademilde fosse contratada pela Rádio Tupi, na qual permaneceu por 11 anos. Desde esta data, os compositores começaram a letrar seus choros e vários cantores passaram a interpretá-los, mas nenhum com a soberania da baixinha simpática e elétrica.

Ainda em 1942, grava dois sambas de Humberto Teixeira — Racionamento, com Caio Lemos e Altiva América com Esdras Falcão.
Em 1943 gravou Apanhei-te Cavaquinho, de Ern Nazareth (letra de Darci de Oliveira e Benedito Lacerda) e Urubu malandro, versos com que Braguinha presenteou-a sobre música de domínio público com arranjos de Lourival de Carvalho. Assinou contrato com a gravadora Continental e passou a ser conhecida como a Rainha do Choro.

Quando em 1945 gravou a polca Rato, Rato, de Claudino da Costa e Casimiro Rocha, acompanhada pelo conjunto Bossa Clube e o violonista Garoto, em ritmo de choro, sua interpretação consagrou-a como a maior intérprete do choro cantado.

O choro Sonoroso, de Del Loro e K-Ximbinho, um de seus maiores sucessos, foi gravado em 1946 junto com o samba Estava Quase Adormecendo, de João de Deus e Sebastião Figueiredo.

Em 1950 alcança novamente enorme sucesso com a gravação de Brasileirinho, de Waldir Azevedo e Pereira da Costa, e Teco-teco, de Pereira da Costa e Milton. Assina contrato com a Todamérica, aonde estréia com os choros Molengo, de Severino Araújo e Aldo Cabral, e Derrubando violões, de Carioca.

Em 1951, pela primeira vez grava baião: Delicado, de Waldir Azevedo e Miguel Lima (considerada uma de suas mais marcantes interpretações) e Arrasta-pé, de Rafael de Carvalho.

Um convite da Rádio Nacional, cujo poder de alcance é hoje comparado ao das grandes redes de TV, veio em 1954. Ademilde integrou o elenco da emissora por 18 anos, tendo, nas suas próprias palavras, “finalizado muito bem” a carreira. Ali atuou com os regionais de Canhoto, Jacó do Bandolim e Pixinguinha, além das orquestras de Radamés Gnattalli e do maestro Chiquinho.

Dentre as muitas exibições ela rememora com carinho a viagem que fez a Paris, em 1952, para tocar no Baile do Castelo Coberville. “O Chateaubriand levou toda Orquestra Tabajara com Elizete, Jamelão, e fizemos um show para alguns artistas internacionais. Foi uma festa linda, toda enfeitada de palmeiras e frutas. Conhecemos tanto artistas franceses quanto americanos”.

Em 1964, ao lado do cantor Jamelão, excursionou por Espanha e Portugal, exibindo-se durante meses em Lisboa. Considera verdadeiramente memorável a temporada que passou em terras portuguesas, onde gozava de um relativo sucesso e ficou dois meses numa casa chamada Samba. “Fui eu e Francisco Egídio, de São Paulo. Além disso, me apresentei num festival internacional na Ilha da Madeira, para o qual vieram uma série de artistas de todo mundo”, relembra a cantora, que permaneceu por um ano e meio na terra do fado

No Brasil em 1967, participou do I FIC, da TV Globo, do Rio de Janeiro, interpretando "Fala Baixinho", de Pixinguinha, com letra de Hermínio Belo de Carvalho.

Na década de 1970, suas apresentações no Teatro Opinião, no Rio de Janeiro, tiveram grande repercussão, levando ao relançamento da cantora em LP da Top Tape, em 1975. .

Aclamada em todo o Brasil, como a “Rainha do Chorinho” e maior intérprete do gênero, foram etenizadas em sua voz tantos choros, que recebeu homenagens de grandes compositores e cantores brasileiros, com reverências e devidas honras as suas interpretações; João Bosco e Aldir Blanc por exemplo, exaltaram Ademilde Fonseca na letra do choro "Títulos de Nobreza" de 1975; Baby do Brasil em pleno Rock in Rio 85 fez uma homenagem a Ademilde, cantando "Brasileirinho" para milhares de pessoas que pulavam e aplaudiam eufóricamente.

Em 1998 se redescobriu Sãogonçalense, segundo informou no Jornal O Grande Natal, pois tinha saído do Município ainda pequena, e com as tantas mudanças políticas na região e sua agitada vida na então Capita Federal dos 40 e 50, sem tempo suficiente para voltar a terra potiguar, além de seus irmãos que a maioria foi morar no Rio de Janeiro, acreditava que Pirituba ainda pertencia a Macaíba. Feliz e com muitas recordações de sua infância, afirmou: "Sou Piritubense Sãogonçalense, minha terra".

Voltou a sua cidade natal, São Gonçalo do Amarante em 1998 para a Abrilfest-Femuc onde cantou junto com a filha Eimar Fonseca, para mais de 10 mil pessoas na arena do evento.

É Admirada no Brasil e no exterior - Uma prova disso pode ser dada pela admiração da cantora japonesa Yoshimi Nakayama que tendo obtido (no Japão) um CD de Ademilde, decorou as letras, sem saber o significado das palavras, veio ao Brasil e passou a cantá-las em seus shows; posteriormente, Yoshimi veio ao Brasil para conhecer Ademilde que a recebeu em sua casa e lhe ensinou, além do significado das palavras das músicas do seu repertório, diversos segredos da sua interpretação.
Yoshimi fez uma gravação no Rio de Janeiro, cantando junto com Ademilde e acompanhada pelo violonista (7 cordas) Walter Silva (Waltinho) e fez algumas apresentações, junta com Ademilde, no Restaurante Panorama no Leblon.

A partir de 2004, passou a se apresentar sempre em companhia da sua filha única Eymar Fonseca. Entre as apresentações mais marcantes das duas juntas, destacam-se os festivais do choro "Na Cadência do Choro", no Circo Voador, em 2005, e a "A Noite do Chorinho", na Cidade de Conservatória, em 2007, e o show "De Mãe para Filha", realizado na sala Baden Powell, em maio de 2008.

Foi homenageada pela Escola de Samba Imperatriz Alecrinense, em Natal, RN, que desfilou, no Carnaval de 2007, tendo como tema a sua história -- ``Saudação da Imperatriz a uma Rainha (Ademilde Fonseca )".

Ainda em 2008, recebeu convite da cantora Carmélia Alves para voltar a integrar o grupo "Cantoras do Rádio", o que aceitou.

Ela ainda mora no Rio de Janeiro e continua fazendo shows, mantendo sua fama de Rainha do Choro e contribuindo para a memória da Música Popular Brasileira.


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